Sunday, June 29, 2008

A crise dos 30

Acho que na maior parte das pessoas existe a ideia de que os 20 são para queimar. “Temos tempo”, pensam as gentes de 20, 20 e pouco. E acham que aos 30, essa data longínqua, a sua vida vai estar resolvida. E o que é mais fantástico: sem terem de fazer grande coisa. Ela vai resolver-se por si própria, pura e simplesmente. Chega-se lá e a vida está resolvida. Pronto. Não há mais nada a saber.

E é esta monstruosa parvoíce, de certas ingénuas e pequenas cabeças de vintes, que gera mais tarde a dita crise dos 30. Como é óbvio, porque afinal pode dar-se o caso de ao chegar lá ainda estar tudo por resolver. E é aí que a coisa começa a dar para o torto. Porque até aos 26 está tudo bem, ainda é idade Cartão Jovem, é sempre a andar. Mas chega-se ali aos 27 e começa o nervoso miudinho. Os 30 já não estão assim tão longe e começa-se com uma leve desconfiança de que afinal as coisas podem não estar resolvidas aos 30. “Ai, ai, ai, que eu não sei o que é que quero fazer da vida. E isto ao amor não está a funcionar assim muito bem.” Ou então “Isto ao trabalho não está a funcionar como eu queria.” Ou então pergunta-se “Por que é que o mundo há-de reduzir-se a esta dicotomia estúpida?” Mas por esta altura, os ditos 27, há apenas uma leve desconfiança que aos 30 a vida pode não estar como queremos. O ser humano, na sua grotesca estupidez, acha que ainda não há grande motivo para alarme. Nem é preciso acelerar o passo. “Eh. Ainda temos tempo.” Apenas fica como uma referência mental, por causa das coisas, do estilo “a tomar nota” ou “a ver”, como a classificação dos filmes que os críticos adoram mas têm medo de assumir.

Chega-se aos 28 e se as coisas estão na mesma: “Espera aí, isto está tudo na mesma. Tu queres ver...” E acelera-se um pouco o passo. Mas ainda não é caso para estugar o passo. Ainda não se estuga. E é então que soa o gongo para a última volta, os 29, e o pânico instala-se. “C’um caraças. Isto vai mesmo dar para o torto.” E então, qual estugar qual quê, corre-se, sua-se, estrebucha-se e estrafega-se quem for preciso. É o tudo por tudo. E se os 30 chegam sem um pouco de serenidade “ai, ai, ai, que me vai dar um treco, um fanico ou uma coisa má”. É uma questão de escolher a expressão mais foleira.

Muitas pessoas chegam a esta idade meio perdidas, não sabem aquilo que querem. Por isso, esta é uma época de balanço e de decisões. Em que muita gente faz finalmente aquilo que devia ter feito aos 20 e pensa “Mas o que é que eu quero da vida?” Pergunta sensata. “O que é que é esta merda?” A pergunta certa.

E por isso os 30 são tão complicados. Há choros, convulsões, desespero, separações, divórcios, desilusões, desencantamentos, baldes de água fria, murros no estômago, murros nas partes baixas, murros por todo o lado, ataques de pânico e demais expressões palermas que simbolizam tudo aquilo por que se passa nesta fase. E pior do que tudo, há uma sensação de solidão. Logo nesta altura em que a gente tanto precisa, há uma consciencialização (peço desculpa se ultrapassei o comprimento legal por palavra – consciencialização = 18 letras) de que estamos entregues a nós próprios. Mais do que nunca, há a percepção de que o nosso futuro afinal só depende de nós. Brilhante conclusão. Logo, é preciso agir. Eis uma coisa boa que vem com os 30. “Ah, então espera aí, afinal é preciso mexer o rabo. Hummm. Estou a perceber.” E isso é capaz de ser uma coisa interessante de perceber.

A minha conclusão é que a culpa disto tudo é do Cartão Jovem. Porque sim.

1 comment:

Catarina R.M. said...

O_O







(e disseste tudo)