É sempre uma alegria ir ao futebol e constatar a quantidade de coisas simpáticas que é possível desejar a alguém em pouco tempo. Um senhor atrás de mim conseguiu dizer em menos de três segundos: “Morre, cabrão!” “Parte-lhe a perna!” “Esmaga!” Tudo com o tom encarniçado e rouco de um porco selvagem que espuma raiva por cada microporo corporal. Até me comovi quando ele disse “esmaga”, tal o sentimento com que conseguiu acompanhar a palavra.
E a alegria
com que ele dizia filho da puta. Caramba, era o sol da bancada. Parecia que tinha
estado 40 dias fechado no Portugal dos Pequenitos, rodeado de crianças fofas e inocentes,
sem poder dizer um único palavrão. E agora, liberto daquele cárcere horrível,
podia finalmente dar largas a toda a sua liberdade de expressão.
Mas o
momento alto é quando se chama filho da puta ao guarda-redes. Mal acaba a
sequência maravilha “...óóó filho da puta”, irrompe a boa disposição na bancada.
A mãe de família solta gargalhadas sinceras, enquanto afaga o cabelo do seu
filho, num sorriso cúmplice e ternurento. E o porco selvagem reforça “hijo de
puta! la puta de tu madre!”, com receio que o guarda-redes espanhol pudesse não
ter percebido o que lhe estavam a dizer. Mais gargalhadas da mamã.
Os estádios
de futebol são o asneiródromo do sul do país. Quem não pode ir ao norte aliviar toda uma panela de pressão de palavrões, tem de ir a um estádio de futebol. "Eh pá, hoje não me apetecia nada ir ao jogo, mas o meu médico aconselhou-me a soltar uns 'filhos da puta'. Diz que faz bem às hemorróidas."
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