Dois manípulos na porta, do lado de dentro. Para separar os que lavam as mãos depois das necessidades dos que não se dão a esse trabalho. Não me venham com conversas que homem que é homem mama com as bactérias alheias de mão cheia. Quero ver quem é o homem que diz o mesmo em relação a não usar preservativo. “Venham de lá esses vírus.”
Enfim, ainda há uns quantos. Especialmente o Papa. Ah, espera, o Papa não conta. E daí, nunca se sabe. Piada foleira, eu sei. Sua Santidade que me desculpe. Mas aquela da abstinência para africanos também não ficou muito atrás. Este Papa é um pagode. O que é que vem a seguir, proibir o adultério em estrelas porno casadas pela igreja? É tão giro este Papa. Às vezes até dá vontade de adoptá-lo e levá-lo a casa de amigos. “Ó Bento, diz lá aquela da abstinência.” Ele diz. Risota geral. A seguir dão-se umas festinhas no queixo. E pronto, Habemus Pagode. Tão giro que é este Papa. Apetece transformar em peluche e apertar. Até se podia fazer um brinquedo chamado My Little Pope. Penteava-se Sua Santidade e brincava-se a tirar e pôr chapeuzinhos.
É só gente fina, a nata da nata, celebridades para todos os gostos, muitos visons, muita marta, muita coisa, os cabelos mais bem lacados da sociedade, muito protocolo, um ambiente de tal solenidade e realeza que a pessoa até se sente mal em sussurrar uma vez que seja ao ouvido de outrém. Mas eis que acaba um andamento musical e rebenta a nojeira absoluta. É só gente a pigarrear por todos os lados, com os pigarros bem puxados atrás. Aquilo parece um escarradouro. E tosse compulsiva de urso. Parece que não tossem há 6 meses. É um nojo completo. E aposto que os que mais escarram são os mais puristas e os primeiros a dizer shhh à primeira oportunidade. Um par da estalos naquelas trombas. Santa paciência.
Esta tendência de democratização do luxo e respectivo vocabulário já me está a dar nojo. E há palavras que eu já não suporto e que me provocam vómitos mentais (e náuseas e enjoo e mau olhado, todo o tipo de efeitos secundários), são elas: gourmet charme (geralmente na variante ‘hotel de’), golfe (especialmente interessante quando pronunciado “gólfe”; “onde vais?” “vou jogar gólfe. com os meus sapatos de gólfe.” ), design, spa, premium, prestígio (“ora aqui está uma bróchura de prestígio” – sim, o ó está acentuado de propósito), degustação chef (apenas tolerável na expressão “ó chef...”, seguida de assobio com a mão) lounge
E depois há outras palavras também interessantes que se começam a espalhar de forma preocupante, como fun (o jaime gama é muito pouco fun), happy (as cores dos iron maiden não são nada happy) e outras anglofilias insuportáveis.
Estava no início da puberdade. O meu corpo explodia hormonas por todos os poros. Por isso foi com gosto que acolhi a chegada do primeiro programa erótico da televisão portuguesa, um concurso de strip que apareceu nos primórdios da sic, com o belo nome de Colpo Grosso.
E o que dizer desta coisa inenarrável? Aquilo era suposto dar tusa a alguém? Aquela espécie de cabaret de vão de escada? É que até eu, que nessa altura sonhava em ir para a cama com 500 mulheres ao mesmo tempo – sempre fui uma pessoa realista –, não conseguia senão achar aquilo nojento. Eu bem que via aquilo esperançado. É agora, é agora que se vai ver alguma coisa de jeito. Mas não, nada. Não havia ali nada que conseguisse produzir estímulo numa única célula nervosa. Tudo era feio naquele programa. E tinha um ar deslavado e decadente. Ca nojo.
A começar pelo apresentador, um tal de Umberto Smaila, a coisa mais asquerosa à face da Terra. O próprio nome é gorduroso. É o único ser humano que consegue estar acima do Jabba The Hutt na escala de asco universal. Suava que nem uma porca. E aquele bigode ridículo... Meu deus, que criatura tão seborreicamente assustadora.
E o que dizer das saudosas Ragazza Cin Cin. Cada uma mais jeitosa que a outra. Jamais esquecerei aquela música, a coreografia, a apoteose.
Até hoje guardo na minha memória expressões e musiquetas inestimáveis como: - Colpo grosso, colpo grosso, col-po gros-so (e seguia-se o flash colectivo) - Allora, il mirtillo (e a moça vestida de mirtilo tinha que dar o mamilo ao manifesto. Sim, porque o outro mamilo ficava sempre coberto pela respectiva fruta. um pequeno toque de classe e erotismo como poderão constatar nos vídeos) - ancora um strip di Bruno Giordesi, di Cremona, per trenta mili eurofichês.
Mais um programa com a chancela de qualidade da rai. É impressão minha ou a rai demonstrou que é possível construir uma estação de televisão só à conta de gajas boas e crianças histéricas (sim, não nos esqueçamos do zecchino d’oro e derivados, que é como quem diz o Sequim d’ouro)? Se calhar é essa a definição em itália de serviço público.
E há que agradecer também à sic, por esta pérola que nos ofereceu. Uma das muitas com que nos brindou no início da sua existência.