Saturday, August 23, 2008

Famílias


As famílias são como pequenos países. Têm uma cultura e uma maneira de funcionar muito próprias. Às vezes até têm familiarismos, que são palavras que só se usam dentro daquela família. Uma espécie de dialecto próprio.

Por exemplo:

Que eu saiba, para a maior parte dos mortais, a expressão “camisa jacaré” não significa grande coisa. Significa apenas um grande ponto de interrogação no cérebro ou, quando muito, poderá ser uma camisa Lacoste. Mas para uma certa família que conheço significa “camisa curta”. Porquê? Que sentido é que faz? Não sei. Não me perguntem. Há coisas que é melhor não saber.

E não contentes com isso, ainda têm outra expressão para roupa curta, que é “fugir à policia” (ex: essa camisola está a fugir à polícia). Que pelos vistos é uma expressão que se usa, mas que eu nunca tinha ouvido na vida. Fugir à polícia? Que tipo de metáfora é que se quer estabelecer aqui? Devem ter achado a do jacaré pouco rebuscada e então passaram a usar esta. Há quem faça provérbios e há quem se especialize em expressões rebuscadas para roupa curta.

E como estes exemplos há outros, é um nunca mais acabar de familiarismos. Só que às vezes, mais do que estas expressões, é todo o funcionamento de uma família que nos parece estranho. E o que é giro, é que mesmo assim, funciona. E aquilo que parecem comportamentos neuróticos e disfuncionais, se nalguns casos se pode usar acertadamente a terminologia clínica ‘este pessoal não bate bem dos cornos’, em muitos outros casos são apenas formas alternativas de atingir uma boa harmonia familiar.

É por isso que entrar numa família é um pouco como ir para fora cá dentro. A pessoa tem de ter consciência que está a entrar noutro universo, a pisar solo lunar e há que ir com calma, antes de começar a botar sentenças. Estas pessoas entendem-se assim. Deixá-las.

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