Sunday, August 24, 2008

O cúmulo da representação

Cheguei à firme conclusão que o cúmulo da representação não é no palco ou em frente às câmaras. O cúmulo da representação é quando estamos no trabalho a tentar fingir que não ouvimos a conversa do lado.

Especialmente quando a nossa cabeça está mesmo a meio do campo de visão das duas pessoas que conversam e temos de a afastar ligeiramente para trás, para não impedir que elas se vejam, mantendo ao mesmo tempo o ar credível de quem está tão imerso no trabalho que não ouve um pingo de conversa.

E esta manobra é ainda mais complicada quando as duas pessoas em questão são nossos superiores hierárquicos, mantêm uma relação amorosa semi-clandestina entre si e o nosso emprego está em risco ao mínimo deslize de mau procedimento social. Isto sim meus amigos, é o fio da navalha.

Perder o controlo e olhar um pouco de soslaio em sinal que se está a ouvir a conversa ou dizer qualquer coisa como, “eu por acaso não concordo, acho que o melhor é irem em carros separados e depois voltam só num” ou “por que é que não discutem isso quando estiverem os dois a sós? Na cama, por exemplo. É que há aqui pessoas a tentar trabalhar”, pode ser muito, mas muito melindroso.

Se quiserem fazer um teste final aos alunos do conservatório de teatro, não os ponham a fazer Shakespeare, ponham-nos num local de trabalho entre a patroa e o namorado, perante frases como “o que é que achas, vamos no teu carro?” ou “vais lá ter a casa?”, e aí vão perceber quem tem estofo para conquistar uma estrela no passeio da fama.


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